Suicídio.

Estou a alguns metros do chão. Lá em baixo vejo pessoas querendo que eu não pule, mas outras desejando que aconteça alguma tragédia. Faço sempre o bem, mas continuo sendo a vilã da velha história contada por algum bêbado caido na calçada da esquina, que por acaso eu conversei sem ter nada o que fazer depois de uma longa festa lotada de gente bonita. As pessoas ainda não querem que eu me jogue daqui de cima. Mas se eu contasse a elas tudo o que passei, bom, talvez elas entenderiam, mas sempre vai ter um filho da puta bancando o psicólogo querendo me ajudar ' As coisas vão melhorar, acredite.' Mas que merda é essa? As coisas vão melhorar? Você nem me conhece, mal sabe minha velha história, como tem tanta certeza do que está falando? As coisas já deviam estar melhores, aliás eu nunca merecia sofrer tanto por algo tão banal. Não merecia ter chorado por tão pouca coisa. Mas as pessoas ali em baixo não estão ligando na verdade, não estão nem aí para os seus problemas. Eu não quero chamar atenção, me deixem cair em paz. É por isso que resolvi subir aqui de madrugada, eu planejei tudo, vou até escrever um testamento dizendo para ficar com todo o amor que um dia joguei no lixo. Sim, pegue aquele amor de volta enfia... em qualquer lugar que desejar.  

Eu só espero que dê tudo certo. Espero não acorda quando eu estiver lá em baixo. Espero não ter que aparecer no jornal das nove com a cabeça coberta por um lençol de hospital. Espero não criar muita polêmica. ' Menina se joga de um prédio. Morre, tudo por causa de uma decepção amorosa' . Não, não, não e não. Não é uma simples decepção. Meu Deus, quando irão entender que o amor é parte de um jogo maligno. Se o amor fosse realmente perfeito não haveria tanta decepção assim. Decepcionada, revoltada eu? Imagina, não agora. Sempre fui. E o cúmulo disso tudo é que estou decepcionada comigo mesmo. Sabe quando você tem vontade de se joga de um prédio? Então, eu só estou colocando isso em prática. Agora sim, as coisas vão melhorar.