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segunda-feira, 21 de março de 2011

Charlie, Paul e a história mal contada.



Havia uma certa pessoa na minha vida. Era o cara mais especial do mundo. Charlie. Nos divertíamos juntos, e ele era tão atencioso. Se preocupava sempre e me mandava cartas sabe, tipo, cartas românticas, dizendo que me amava, e que eu era a unica pessoa em que ele realmente se importava. Passamos muito tempo juntos, conhecemos pessoas, visitamos lugares lindos. E ele sempre foi muito especial, sempre, nunca deixou de ser. 
Passado alguns dias eu notei certa indiferença da parte dele em relação à mim. Tudo o que eu dizia, parecia não importar muito. Ele sempre percebia isso, e me escrevia cartas novamente pedindo as mais sinceras desculpas por estar tão distante de mim, mesmo tão perto. Eu o amava e acabava desculpando. Não havia tanta coisa errada assim. Ele se importava mesmo comigo, mas o seu trabalho e a sua paixão pelo que fazia o deixava longe de mim. Parecia que não havia espaço mais para mim. Era só o trabalho e a sua paixão. Não sei por que, mais me sentia uma desconhecida as vezes sabe, era horrível. Mas ainda o amava muito pra poder tomar qualquer iniciativa precipitada. Ele era um cavalheiro, lindo e dedicado. Mas o que sempre me deixava tão mal as vezes, era o seu jeito de pensar que tudo estava bem. Que tudo ia ficar bem, e que umas simples desculpas iriam adiantar e ninguém ali iria sofrer. Ele costumava achar tudo muito perfeito, tudo se encaixava para ele. Mas mesmo o amando eu ainda sentia que faltava alguma coisa. Sentia um vazio em mim, e chorava as vezes - Ele realmente nunca soube disso. Nunca vai saber. 
Foi numa dessas nossas viagens a trabalho dele, que eu conheci uma pessoa. Ele era totalmente o oposto de Charlie. Esse cara era um amigo dele. Paul. Eu não o conhecia e nunca tinha ouvido falar dele. Mas nos identificamos sabe. Ele tinha uma namorada também, o Paul, e era quase a mesma coisa. Enquanto Charlie estava numa palestra,  eu e Paul começamos a conversar do lado de fora. Ele era tão diferente de todos, tão diferente de Charlie, pelo menos aparentava. Me fazia rir, e parecia que nos conhecíamos a tanto tempo. Falamos tanto sobre infância, e tudo aquilo que eu costumava sentir quando achava que estava sozinha, quando achava que tudo não passava de um erro. Que Charlie não passava de um erro. Grande erro. 
Ele me contou sobre sua namorada, e seu relacionamento desastroso. Ele não suportava as brigas que sempre tinham, e estava cansado de sempre levar a culpa por tudo. Me falava que de alguma maneira ele também achava que era um erro, apesar de amá-la, ou pelo menos achar que a amava. Já havia um certo tempo que estavam juntos. Acostuma sabe. Difícil de se livrar de algo assim. Quando insistimos e acabamos tornando o erro maior ainda. E vai crescendo, crescendo , até uma hora em que você explode, e não suporta mais segurar tantas coisas que entalam na sua garganta. Paul sentia a mesma coisa, e já achava que era hora de falar tudo pra ela. Me senti bem , sei lá. Que maldade.
E ficamos ali por horas. Eu não sei, mas algo nele me chamava atenção. Éramos tão iguais no modo de pensar e ver as coisas. Sentíamos o mesmo em relação à quase tudo. E a noite passou. Não durou muito a minha ansiedade, logo de manhã fui procurá-lo no quarto onde estava. Charlie ainda dormia, então fui conversar com Paul. apesar de conversarmos tanto na noite anterior, havia certas coisas que ele não sabia ainda. Meu medo de estar enganada, a dor que eu sentia, o vazio dentro de mim, as coisas que não se encaixavam, nada, nada disso Paul sabia. E desabafei. Contei que não aguentava mais, e pedi mil desculpas, ele devia ter pensado " O que essa louca está fazendo aqui, essa hora da manhã?" Mas só devia, acho que não pensou. Ele realmente me escutou aquela manhã sabe. Foi lindo. Paul era o cara certo pra qualquer mulher. Ele parecia um Francês. Romântico, doce, e tão certo nas coisas que me falava. Parecia mesmo ler minha mente. E o que ele dizia, eu já estava pensando faz tempo. Era tão surreal. Mas era bom. Pude falar tudo o que estava entalado. E ele só me disse " Não é à mim que você deve dizer isso, você sabe à quem deve dizer" Eu estava em total descontrole. Não sabia o que fazer, e meu medo era fazer algo por impulso. E cometer outro erro. Mas estava cansada de sempre ser o segundo ou terceiro plano para Charlie. Cansada. Mal. Desolada. 
Naquele dia não fui falar com Charlie. Eu disse à Paul que deveríamos fugir. Ele deve ter pensado " Eu tenho namorada sua louca" E sabe o que ele fez? Paul era tão certo que me falava " Não, isso é errado, como o cara vai ficar? Não podemos fazer isso" e eu insistia " Podemos, eu quero, você quer" Eu nem sabia o que ele queria pra falar verdade. Paul naquela mesma hora, pegou sua mala, a chave do seu carro, e fugimos. É fugimos. Conseguir não sei como pegar minhas coisas, não havia tanta coisa assim. Era só vestidos, e tinha levado só alguns pares de sapato. Era o trabalho de Charlie, não uma viagem pra passeio. E fomos. 
Sabe, pra fala verdade , sumimos. Sumimos de tudo o que nos incomodava. Apesar de sermos tão loucos e nem nos conhecermos direito, conseguimos sair daquele lugar. Charlie até hoje pensa que eu estava drogada, e na hora não pensei muito no que fazer. Não fiquei surpresa mesmo sabe, tudo para ele estava bem de mais, perfeito de mais, pelo menos enquanto estava curtindo seu trabalho de merda. Nunca vi uma pessoa se importar tanto com o seu trabalho e deixar outra pessoa que sempre disse que amava e demonstrava se importar, assim de lado, segundo plano. "Depois falo com você". " Vai ficar tudo bem" . Não, não vai. Enquanto estive com Charlie no começo era tudo lindo de mais. Mas eu sempre esqueci de como tudo no começo parece ser realmente perfeito. 
E agora eu consigo enxerga que se existe alguém que pode te machucar mesmo não sabendo disso, existe com certeza uma pessoa que pode curar suas feridas.

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