“As coisas acontecem por alguma razão. Quando não há razão
nenhuma, não precisamos ficar procurando até encontrá-la, até por que você não
a de encontrá-la. O que tem de acontecer... vai acontecer”
Ele pegou uma xícara branca cheia de detalhes. Era linda,
assim como tudo ao seu redor era perfeito.
- Obrigada, não precisava mesmo... - E o pior é que
realmente precisava. Meus enjôos estavam piorando. Eram terríveis.
- Não por isso. Você precisa sim. O que te deram não faz
bem, muito menos pra você que é tão jovem e nunca deve ter experimento algo do
tipo. – Ele disse calmo e ao mesmo tempo seus semblantes entregavam sua raiva.
- Você está bem? – Como se eu estivesse ótima. Mas me
preocupei. Ele parecia um pouco tenso.
- Eu estou bem, você que não está, então logo esse chá. Você
vai melhorar. – Ele me deu um sorriso irônico. Seus olhos brilhavam feito luz.
Então tomei o chá. O melhor chá que tinha tomado na minha
vida, e não é exagero. Como um cara que mora sozinho tem o quarto tão bagunçado
e ao mesmo tempo é tão elegante comigo? Como um cara que aparenta ter 30 anos é
tão desorganizado e ao mesmo tempo consegue fazer um chá tão divino? Sei que
são coisas tão diferentes uma das outras. Um cara pode muito bem ser um
desastre, mas preparar coisas tão detalhadamente boas. Ele era um verdadeiro
cavalheiro. E eu comecei a entender ele. Com certeza não havia nada de mais. Eu
estava mal, minha amiga bêbada, ele tinha um carro, pelo jeito me conhecia de
algum lugar, certamente também conhecia minha amiga, mas por que ela nunca
falou desse homem pra mim? Ela sempre quis que eu tivesse um namorado ou pelo
menos conhecesse um cara legal. Sempre me apresentou homens ridículos. Mas por
que não me apresentara a Aaron? Não que eu quisesse. Mas por que não?
Eu estava confusa, mas Aaron me parecia protetor. Ele
cuidara de mim durante toda noite. Eu precisava agradecer de alguma maneira.
Precisava fazer alguma coisa para não parecer uma insensível ingrata.
- Aaron... Eu o agradeço por tudo, apesar de não entender
muito bem essa história toda.
- Mas Melissa... – Ficou perplexo pensando que teria de
explicar outra vez.
- Calma, é modo de dizer. Eu entendi sim toda essa parte da
festa, das bebidas, da droga... Eu o agradeço como disse. Eu só queria saber da
onde me conhece. E como minha amiga nunca me falou sobre você.
Aaron abaixou a cabeça e ficou quieto por alguns segundos.
Parecia ter de inventar alguma história pra eu poder acreditar nele.
- Olha, isso não vem ao caso agora. Eu só espero que você
fique bem. Você precisa ir. Precisa avisar seus pais que você está bem.
- Aaron, moro sozinha. Sou uma escritora amadora. Meus pais
moram em outra cidade. Eles não precisam saber que eu fui a uma festa, muito
menos que dormi em sua casa. Já sou maior de idade apesar de não aparentar
tanto. Então não se preocupe, tenho todo tempo do mundo pra você me explicar. –
Me senti aliviada por ter dito aquilo. Eu estava mais segura no momento.
- Melissa, eu não conheço sua amiga. Eu somente conheço a
você. Mas isso é uma longa história como tinha te dito.
- Me conte Aar...
- Melissa, por favor, se recomponha- Me interrompeu- Você
precisa ver sua amiga, ela deve estar preocupada. – Ele parecia estressado cada
vez mais.
- Tudo bem Aaron, eu vou. – Eu não queria ir embora, eu
estava curiosa pra saber o que ele estava escondendo de mim.
Levantei-me e fui até o quarto lavar o meu rosto. Eu estava horrível.
Minha maquiagem havia borrado e só no banheiro eu fui perceber isso. Meu Deus, Aaron deve ter percebido minha
falta de classe. Mas agora estava tudo bem. Eu precisava conversar sério
com a minha amiga. Haley sua louca
desvairada. Apesar de querer me proteger, mesmo assim, Aaron era estranho
pra mim. Eu estava percebendo o risco que eu corria naquela casa. E aquele cara
que estava na cozinha me disse coisas que não eram reais? E se Aaron tivesse
mentido pra mim? Enquanto estava no banheiro lavando meu rosto a paranóia me
perseguia. Caramba, acorde Melissa, Aaron
é um cara legal, te salvou. Então parei por um momento, enxuguei o meu
rosto, e eu estava de volta outra vez. A velha Melissa careta, sem maquiagem e
com um ar de mistério. E por falar de mistério, Aaron era um homem bem
misterioso. É do tipo de cara que se pensa logo ao vê-lo: O que esse homem deve
estar pensando agora? “. Eu sempre gostei de caras assim. Mas estava furiosa por
não ter me contado de onde me conhecia.
Quando sai do banheiro fui pegar minha bolsa que estava
também em cima da cama. Reparei que tinha muitos livros do tipo auto-ajuda e
romances. Quando deparei com um livro grosso e preto. Aaron possuía um livro que
eu tinha escrito.
Há muito tempo atrás publiquei um livro sobre viagens. Havia
lá todas as minhas viagens e fotos lindas que eu tinha tirado durante todas
elas. O meu livro mais antigo. Um dos primeiros que mandei
publicar. Muita gente comprava esse livro pra saber sobre os lugares mais
estranhos e loucos que poderiam conhecer.
Fiz essas viagens num momento de loucura e desejo pessoal. Queria
algo que fosse diferente de tudo. Então peguei todo dinheiro que eu tinha
guardado e todo dinheiro da faculdade e então viajei. Visitei quase toda a Ásia
e África. Foi bom e ao mesmo tempo muito perigoso. Passei por situações
bizarras, coisas que não imaginaria a um tempo atrás. Aventurei-me por lugares
desertos e sombrios. Quase fui morta por protestantes. Mas valeu a pena. O livro
possuía uma quantidade enorme sobre pontos turísticos. Fiquei orgulhosa de mim
mesma. Poucas pessoas compraram. Não foi um fracasso, mas tampouco um grande
sucesso.
- Melissa, está pronta? – Ele já estava me esperando na
porta.
- Claro Aaron, podemos ir. – Disse com voz desanimada.
Fui até a porta de entrada e fiquei parada olhando para seus
olhos imensos. Aaron meio envergonhado abaixava a cabeça sempre que olhava para
ele.
Eu realmente não queria sair dali, algo me prendia. E não
era somente a curiosidade que tomava conta. Eu queria saber mais sobre ele.
Saber no que trabalhava e por que possuía um apartamento digno de estrela de
Hollywood?
- Aaron, eu já sei. – Estava prestes a contar do que tinha
encontrado
- Você andou mexendo nas minhas coisas Melissa? – Estava nervoso.
E eu estava ficando com medo.
- Olha Aaron, me desculpe, mas eu não mexi em nada. Eu só vi
um livro seu...
- Melissa isso não se faz, pensei que você fosse maior de
idade, madura o suficiente pra saber que não é legal ficar olhando os objetos
de outras pessoa, ainda mais por que não me conhece.
- Aaron! Você queria o que afinal? Deixou coisas em cima da
cama eu só reparei que tinha um...
- Sim Melissa, se o que quer saber, é sim, possuo um livro
seu. Mas eu te conheço há mais tempo que isso. Eu só não quero voltar a esse
assunto. Por favor Melissa, vamos, não há nada para se preocupar!
Eu só não queria deixá-lo nervoso e tenso daquele jeito. Por
que ele estava ficando assim? Eu fiz algo pra esse homem e não me lembro? Ele faz
parte do meu passado? Mas eu me lembro perfeitamente do meu passado. Ele não
estava em lugar algum. Mas mesmo assim algo continuava prendendo meus olhos aos
dele.
continua...
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